Monday, September 26, 2005

O inconcebível acontece

Por VASCO PULIDO VALENTE no Publico de 23.09.05

Alemanha sabe que precisa de reformas, mas não quer reformas.
A Franca sabe que precisa de reformas, mas não quer reformas.
A Itália sabe que precisa de reformas, mas não quer reformas.
Portugal sabe que precisa de reformas, mas não quer reformas.
A palavra reforma não descreve bem o remédio, ou, se quiserem, a necessidade. Do que se trata é de uma revolução. O modelo social tão querido ao socialismo e à Europa, sonho de um século (sec XIX), faliu. Faliu financeira, económica, social e politicamente. Não vale a pena repetir, argumentos a argumento, a razão porque não pode sobreviver, não pode; e estamos todos da Alemanha a Portugal na eminência de uma catástrofe que irá tornar o mundo que conhecemos num mundo irreconhecível e hostil. A maioria das pessoas não consegue imaginar mudanças de uma grande radicalidade. Mesmo quando os sinais se acumulam e a lógica se torna inescapavel. Em 1914, ninguém acreditava numa guerra de cinco anos, com (pelo menos) nove milhões de mortos. Ninguém acreditou depois que não havia espécie de maneira de “apaziguar” Hitler ou de negociar com Estaline. E com certeza que nenhum comunista admitiu o colapso do Império Soviético. O género humano não suporta demasiada realidade. Ainda por cima, nesse ponto, as coisas pioraram, o Estado de Providência transformou a cidade num quase absoluto irresponsável e os dirigentes da democracia fazem uma carreira de lhe mentir. Um adulto europeu espera no mínimo o seguinte: Que o estado lhe eduque os filhos, que o estado o trate na doença e que o estado lhe dê uma pensão para a velhice decente e prospera e, espera também trabalhar pouco (em França 35 horas por semana), um aumento de salário no fim do ano, que lhes paguem as férias, que lhe garantam o emprego e, muitas vezes que lhe deiam uma casa ou uma renda barata. Só que esta fantasia que assentava no domínio universal do ocidente, na miséria da Ásia e na escravidão da Europa oriental, acabou, e acabou para sempre. Não serve de nada por um remendo aqui e um remendo ali. Mais tarde ou mais cedo o edifício vem abaixo, e não virá abaixo em concórdia e paz. Nenhum regime político resiste à impotência e o que é hoje têm em comum os governos da Europa, na Alemanha como em França em Itália como em Portugal, é manifestamente a impotência. Da fraqueza não sai a ordem; e o inconcebível acontece.

2 comments:

Not-so-funny-guy (NSF) Guy said...

Embora compreenda que a história tende a repetir-se numa infindável geração regular de padrões mais ou menos previsíveis, a verdade é também que um raio nunca acerta duas vezes seguidas no mesmo sítio.
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Agora não sei exactamente se isso que acabou de dizer é futurologia ou palavras que pretendem de alguma forma lançar o pânico e fazer isso acontecer - tipo efeito borboleta. Talvez seja um pouco de ambos, de outra forma esses pensamentos nunca teriam sido gerados por este cérebro :)

Anonymous said...

seus filhos de uma granda puta