Friday, November 11, 2005

A modernidade tardia e a subtil escravatura capitalista!

Breve reflexão de Anthony Giddens sobre o florescer do capitalismo na modernidade tardia:

Giddens (1997), classifica a modernidade tardia como o período actual do ocidente. antecedendo este período o modernismo sobrepôs-se ao pré-moderno, este ultimo caracterizado por uma dependência e estruturação do indivíduo face ao grupo, não dispondo verdadeiramente deste estatuto de individualidade. Com o modernismo vagamente caracterizado com o aparecimento da industrialização e pelo abandono do trabalho agrícola tradicional, a autonomia económica do indivíduo começa a desenhar-se embora mantenha ainda laços de dependência com o núcleo grupal e familiar, sustentados claramente por uma moral, ética e algum controlo social. A partir do pos-modernismo, ou seja , com o aparecimento de instituições de segurança social , o vulgo estado de previdência, a autonomia do individuo face aos “seus” é uma realidade. Os novos deixaram de depender dos velhos, os velhos de depender dos novos, os homens das mulheres e estas dos mesmos numa fragmentação social com tudo aquilo que pode advir de positivo como de negativo. Todos nós podemos contactar como as nossas famílias se tornaram nucleares, como muitas vezes o nosso núcleo familiar não convive com os restantes parentes, e como muitas vezes o numero de amigos da família não abunda. Tudo isto se prende com esta progressiva autonomia e individualismo.

Este individualismo exige do indivíduo a construção da sua própria identidade através de um processo auto-reflexivo, uma vez que o núcleo social alargado não fornece já um modelo comportamental mais ou menos estereotipado. Desta forma os indivíduos são levados construir a sua identidade apartir de mescla de traços dispersos. toda esta constrtução poderá ou não fazer parte do seguinte plano, no entanto vemos com é este modelo social que sustenta o capitalismo selvagem!

“O mercado alimenta-se da infelicidade que gera: os medos, ansiedades e sofrimentos de inadequação pessoal que induz libertam o comportamento do consumidor indispensável à sua continuação.

“O projecto do self tornou-se fortemente mercadorizado” “O consumo de bens novos torna-se em parte um substituto do genuíno desenvolvimento do self e a aparência substitui a essência à medida que os sinais de consumo bem sucedido começa de facto a sobrelevar os valores de uso dos bens e serviços”

“Os mass media apresentam rotineiramente modos de vida aos quais é suposto, toda a gente deva aspirar”

“Telenovelas são escapes, substitutos para satisfações que não se obtêm sob condições sociais normais”

Esta auto-reflexividade não está no entanto ao nível de grande parte da população não escolarizada ou pouco escolarizada, estas pessoas aderem por norma a discursos fáceis como o discurso religioso ou fundamentalista que lhes fornecem um modelo de “como ser” na sociedade previamente elaborado que não requer qualquer construção individual.

Penso que após esta abordagem estaremos plenamente aptos a perceber todos estes fenómenos de Hip-hop MTV, dos morangos com açúcar, todas as quintas das celebridades e de toda a estrumeira em que se transformaram os canais de televisão. Só assim podemos compreender como é que as pessoas se continuam a endividar até ao pescoço, com vivem nos shoppings e consomem mais do que podem, recorrendo inclusivamente a créditos ao consumo a juros absurdos para sustentarem a sua auto-estima e construção de si. Só assim podemos compreender como os nossos jovens estão a crescer vazios de valores e cheios de bens materiais fornecedores de alegria reconhecimento e auto-estima imediatos mas vazios e efémeros necessitando de uma constante alimentação de auto-estima através de novas compras para não frustrarem. Só assim podemos compreender os frutos desta máquina gigante engendrada por americanos e afins para colonizar e escravizar o mundo! E estão a consegui-lo!

1 comment:

matatempo said...

Como ex-aluno de sociologia, vejo agora claramente aquilo que não via antes,a importância de estudar as sociedades humanas e como estas se interelacionam.o artigo está excelente parabéns.