Wednesday, October 26, 2011

Enumerações Exaustivas

Realmente enamoro-me com tudo,
Como pode alguém gostar de mim?

Habituei-me a pensar que era uma coisa boa
poder apreciar os pequenos silêncios das coisas:
do plástico, da madeira a estalar, do silêncio da noite,
das chaves a tintilar...

como se desfilassem diante mim e exibissem a sua beleza
neste curto teatro que é a minha vida:
desde a ante-estreia que a minha audiência procurou autênticidade
tal como eu procurei autênticidade nela, mas só vi mentiras e
falsas verdades, e recusei ver tudo o resto que parecia acidental,
mas na verdade era um amontoado de pequenos pedaços de espelhos partidos
no chão que as pessoas procuram no meio dos escombros de um enorme
espelho que se lhes volta a unir todos os dias durante o sono...


Realmente temo ter medo de não gostar,
Realmente temo não gostar,
Realmente não gosto.
Como pode alguém gostar de mim?

Realmente temo não ter medo,
Realmente não tenho medo,
Realmente não tenho é jeito.
Como posso de alguém gostar?
...

Habituei-me a pensar que para gostar de mim
próprio teria de ter mais audiência que não eu próprio.
Agora penso que não sou mais que o meu reflexo.
Agora penso que sou ambos:
o espelho vaidoso que se olha nele próprio
e a criança cega que chora no escuro dos confins do universo
do diâmetro da impossibilidade.

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